Rascunho

Eu gostei.
Odeio dizer isso tanto quanto odeio sentir. Odeio ter que admitir e odeio mais ainda que tenha causado isso em mim.
Odeio gostar e odeio ter que odiar.
Porque a verdade, aquela que a gente guarda no fundo do armário e esconde a chave do mundo e de nós mesmos, é que eu gostei.
E ainda consigo sentir a textura dos seus lábios e saberia descrever exatamente cada traço que ele possui. Consigo sentir o gosto do seu hálito quente e de como misturado com o meu eles me pareciam perfeitos.
Odeio relembrar e relembrar e ainda conseguir sentir o mundo parar enquanto naqueles míseros momentos o universo fez de conta que conspirava ao meu favor e me fez ser sua por inteiro.
E fico por aí feito boba, tentando encontrar aquele olhar pelas ruas, implorando que algum deles me prenda e me tire a respiração; e faça sentir que as borboletas invadiram meu estomago e que num estalar de dedos o mundo ficou menor e mais quente. Que faça minhas mãos suarem e me deixe feito boba, dando risadinhas e sorrisos desnecessários apenas de lembrar e querer e sonhar.
E me pego desejando reviver aquilo tudo novamente, com as minhas pernas no seu colo e seu abraço envolvendo meu minha cintura. E o cheiro gostoso do seu pescoço e a sua respiração sob a camisa.
Quero os beijos demorados e até os mais curtinhos, que faziam meu coração parar e entregavam uma parte de mim a você. E os sorrisos no meio do beijo e as suas mãos envolvendo meu rosto quando disse que iria embora.
Mas você não foi. Você ficou.
Ficou em cada parte do meu corpo que deseja o seu dia após dia. Ficou nas lembranças e meus beijos e nos desejos que eles possuem.
E odeio ter que admitir que estava completamente e irrevogavelmente certo quando disse que eu desejaria seus beijos e iria querer mais e mais. Todos os dias. Hora após hora.
Odeio ter que te odiar por ir embora e odeio ainda mais te odiar por querer que você volte.
E continuo odiando gostar e odiando ter que me contentar apenas com o odiar gostar, porque seria completamente incrível odiar ter.